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Notícias falsas no quarto maior jornal do país

Em bate-papo na Biblioteca Parque Estadual, autores do site revelaram bastidores e a história do site de notícias fictícias.

[Foto: Gilberto Scofield Jr., Nelito Fernandes, Martha Mendonça e Leonardo Lanna (Crédito: Erick Dau)]

O maior site de notícias fictícias do Brasil é também o quarto maior jornal do país. Sim: o Sensacionalista recebe 10 milhões de acessos por mês e já está virando fonte de informação primária para muita gente, segundo avaliação dos autores.

"Muita gente que não sabe que determinada notícia aconteceu vê o Sensacionalista e vai buscar depois a notícia real", contou a jornalista e roteirista Martha Mendonça, redatora do "Sensa" — como o site é conhecido pelos mais íntimos.

Martha esteve com o também jornalista Nelito Fernandes e o historiador Leonardo Lanna — respectivamente, fundador e redator do site — na penúltima edição do Conversas na Biblioteca, realizado na última sexta-feira (19/2) na Biblioteca Parque Estadual. O papo foi mediado pelo jornalista Gilberto Scofield Jr., ex-editor de O Globo.

"Somos o quarto maior jornal on-line do Brasil. E o único que não está falindo", provocou Nelito. "Temos uma redação enorme, mais de 200 pessoas no prédio RB1 (Rio Branco, 1)", brincou Martha, antes de revelar que o site tem uma equipe de seis pessoas no Rio e em São Paulo, que se reúnem e batem o martelo sobre as publicações através do WhatsApp.

Nelito contou que o Sensacionalista surgiu depois que ele foi demitido de um programa de humor. "O Sensacionalista não se chamava assim. Era um site que eu fazia sozinho, Diário de Hoje ", conta o roteirista. "Era uma versão hardcore do Sensacionalista, politicamente incorreto, com palavrão no título."

Depois do batismo do site com o nome que permanece até hoje, o tom ficou um pouco mais leve. Ainda assim, a primeira manchete foi "Perna mecânica de Roberto Carlos comemora 50 anos de carreira", publicada em 2009.

Martha e Leonardo se juntaram a Nelito também neste ano. Ela tinha um blog e já havia publicado livros com pegadas humorística. Um detalhe importante favoreceu a aproximação: Nelito e Martha são casados. Já Leonardo tinha uma conta no Twitter de histórias curtas e satíricas.

Humor e política

Embora a definição mais comum do Sensacionalista seja "site de notícias falsas", Martha prefere descrevê-lo como um "site de humor em linguagem jornalística". A equipe quer diferenciar os textos da boataria que tanto confundem a internet hoje em dia. "Nossa ideia não é fazer boato, é fazer humor", explicou.

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O historiador Leonardo Lanna tem uma conta de humor no Twitter que o levou ao Sensacionalista (foto: Erick Dau)

Humor, vale dizer, crítico. Os autores foram enfáticos ao descrever a "linha editorial" do Sensacionalista: humor já é de oposição. "Alguns dizem que o Sensacionalista é de esquerda; outros dizem que é de direita. Na verdade não é nem um, nem outro. Entre nós, um votou no Aécio e o outro na Dilma", contou Nelito. "

Durante a conversa, o mediador Gilberto Scoffield perguntou aos convidados qual a influência do pensamento "politicamente correto" nas piadas publicadas no site: eles tomam cuidado para não ofender? "Isso já está no nosso DNA: vamos bater no opressor, e não no oprimido", explicou Martha. Leonardo acrescentou que o humor que se consome hoje é bem diferente daquele consumido antigamente: "Hoje se tem a ideia de que é muito mais engraçado bater no opressor do que no oprimido. Porque as minorias foram ganhando espaço, voz. A gente faz parte desse movimento."

Esse tipo de pensamento já levou a equipe a derrubar algumas manchetes. "Não queremos ser polemistas, mas humoristas. Não temos problema nenhum em tirar coisas do ar", explicou Nelito.

Ainda assim, embora o site publique 10 manchetes por dia, até agora só sofreu um processo, movido pelo deputado Marco Feliciano — que afirmou ter ficado "emocionalmente abalado" com a manchete "Marco Feliciano cancela a remessa de cremes de cabelo comprados em Miami", publicada após a aprovação do casamento gay nos Estados Unidos.

De resto, a equipe recebe apenas notificações extrajudiciais e pedidos educados para retirar uma manchete do ar. "Já recebemos notificação da Maria Bethania", lembrou Nelito. Macacos velhos, sabem evitar bombas potenciais. "Sabemos que a Preta Gil processa sempre", continua o jornalista.

Mas como sobrevive o Sensacionalista? Hospedado no Uol, o site é remunerado em três frentes: o sistema de anúncios do Google, uma pesquisa da mesma empresa quando o visitante acessa mais de três páginas e publieditoriais — ou seja, quando alguma marca encomenda uma notícia sobre ela ou sobre algum comportamento ligado a ela. "As marcas ainda estão com dificuldade de saber como fazer isso de forma eficaz", contou Martha. "Normalmente querem coisas elogiosas, mas isso não é humor."

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