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47º Osterio

Osteria dell’Angolo

O que esperar da Rio + 20?

Com Suzana Kahn Ribeiro, Sub-Secretária Estadual de Economia Verde; Clarissa Lins, Diretora Executiva da Fundação Brasileira de Desenvolvimento Sustentável; e Sérgio Abranches, cientista político, editor do blog Ecopolítica e comentarista da Rádio CBN.

Que tal criar uma organização da sociedade civil, multilateral, com sede no Rio? Que tal um pólo de mundial de inovação em ações e negócios, em políticas públicas, atuando nas áreas de economia verde e erradicação da pobreza?

O Rio de Janeiro sediará em junho próximo a reunião ONU Rio + 20, um follow-up à Eco-92, que aconteceu na cidade há duas décadas. No intervalo, houve muito progresso na área ambiental, e muita mudança. Durante a Eco 92, a finada Telerj lançava um cartão telefônico para substituir a ficha tradicional (suscitando filas em orelhões, de pessoas ansiosas para experimentar a novidade). Ambientalistas russos, recém-saídos do comunismo, sofriam com o "calor" do inverno carioca debaixo das tendas da feira de ONGs, que se estendia pelo Aterro, longe da reunião formal no Riocentro. Enquanto isso, lá em Camorim (Jacarepaguá?), no estacionamento, indígenas brasileiros aguardavam permissão para entrar no centro de convenções. Raoni acabou fazendo um discurso do alto de um canteiro.

Suzana Kahn Ribeiro: a questão mais importante é o modelo de desenvolvimento e o uso dos recursos naturais

Hoje estamos mais conectados e mais sujeitos a tragédias climáticas. Contamos com mais democracia e menos pobreza no mundo todo. De acordo com o Itamaraty, a Rio + 20 será a maior conferência da história da ONU, com a presença de cerca de 50 mil pessoas e mais de cem chefes de Estado. Assim, teria o potencial de ser um evento mais importante do que a Copa de 2014 ou as Olimpíadas de 2016.

O que se pode esperar então, na esteira da decepção da reunião da ONU sobre mudanças climáticas em Copenhague em 2009, no meio da crise econômica global, num momento em que os Estados Unidos foge de seu papel natural de líder?

A colunista econômica Miriam Leitão achou o marido, Sérgio Abranches, muito pessimista; perguntou se não saiu alguma coisa positiva de Copenhague

Sérgio Abranches aguarda mais resultados de grupos de prefeitos e de ONGs, do que dos países que participam da ONU. De fato, o C40, um grupo de prefeitos de 58 cidades no mundo, está fazendo muito para criar e compartilhar ações em prol do meio ambiente. Os prefeitos, entre eles nosso Eduardo Paes, se reuniram em São Paulo em maio deste ano.

Clarissa Lins aposta nas empresas do setor privado, que contribui de maneira crescente desde 1992 para reduzir as ameaças ao meio ambiente. "A ideia de código de ética de fornecedores é nova nos últimos vinte a trinta anos," disse ela.

A fundação que Lins dirige faz consultoria sobre sustentabilidade empresarial para clientes tais como a Aracruz Celulose, Banco Itaú, Suzano e Petrobras. A FBDS prepara uma avaliação global com foco no acesso à energia sustentável para todos no futuro, que será usada como insumo e informação que poderá influenciar o conteúdo e a abordagem dos temas da Rio+20.
Clarissa Lins: os consumidores poderiam pressionar mais às empresas

Suzanna Kahn Ribeiro sugeriu uma agenda paralela ao encontro, "para que não seja um desperdício", pois culpa a ONU por ser muito lenta, com pouca perspectiva de resultados concretos. Diz ela que se deve focar em um novo modelo de desenvolvimento, com papeis novos para o capital nacional, o capital humano e foco na inclusão social.

Havia uma escassez de otimismo no 47o OsteRio, mas ideias não faltavam. Afirmando que chegou a hora de criar ligações entre o local e o global, Sérgio Abranches sugeriu criar uma organização da sociedade civil, multilateral, com sede no Rio.

Na hora do debate, a colunista de economia Miriam Leitão sugeriu que o BNDES impusesse requisitos de sustentabilidade na hora de fazer empréstimos. Falou-se também em precificação, conceito pelo qual o Estado cria incentivos e desincentivos, geralmente fiscais, para incluir custos ambientais nos preços de bens tais como combustíveis fosseis e carros.

Ricardo Henriques, Presidente do Instituto Pereira Passos, responsável pela UPP Social, comentou que da mesma maneira que o trabalho escravo acabou, deve ser possível parar com a destruição do planeta

Apesar das dificuldades apresentadas, houve consenso de que o paradigma está mudando e que, se o Brasil conseguiu acabar com a hiperinflação e criar as condições para a chegada na nova classe média; e se o Rio de Janeiro hoje se encontra num percurso de transformação positiva, deve ser possível também andar mais depressa na área ambiental.

John Williamson, "pai" do Consenso de Washington: é um erro minimizar o papel dos governos

"Estamos aqui tentando reinventar nosso futuro, do planeta, e do Rio," disse André Urani quase no final da noite, com aquele jeito dele de instigar corações e mentes. "Do ponto de vista do europeu, do americano, até do argentino, a gente representa essa capacidade de síntese, de poder juntar [economia verde com a erradicação da pobreza]. Se tem alguém capaz de fazer isso, somos nós." Ele fez uma breve descrição das belezas naturais do Rio. "Nós temos a capacidade de síntese. Nós somos o território urbanizado, metropolizado. Nós somos a cara do desafio. Podemos criar um pólo mundial de inovação em ações e negócios, em políticas públicas, que atuem nessas duas áreas [...] nos temos condições para isso, temos governo, temos governos relativamente bons, que se entendem, que falam, que são capazes de chegar numa conferência como essa com uma posição em comum, sem brigar.