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Editais buscam fomentar economia criativa do estado

Em tempos de recessão, quando a crise na Petrobras diminui os postos de trabalho do Rio, o investimento em cultura pode constituir uma importante alternativa à economia carioca. Dois novos editais visam movimentar o setor, aliando tecnologia e criatividade.

Dois editais da Secretaria de Cultura do Governo do Estado abertos de hoje (21/10) a 19/11 buscam movimentar a economia carioca valendo-se da tecnologia e da criatividade: o edital LAB Rio Criativo vai selecionar uma entidade privada sem fins lucrativos para elaborar um projeto de instalação e gestão de um centro tecnológico de produção e pós-produção de conteúdos digitais. Já o edital de coworking oferece a ocupação gratuita de até 40 lugares para quem quiser trabalhar em um espaço compartilhado, na sede da incubadora Rio Criativo, na Praça Onze.

Os editais têm o objetivo de incentivar a chamada economia criativa do Rio, setor econômico que, de acordo com as Nações Unidas, inclui as atividades de “criação, produção e distribuição de bens e serviços que utilizam o capital intelectual como seu principal insumo”. Segundo a organização, o termo engloba de artes folclóricas ao cinema, incluindo também o design e a gastronomia, podendo “gerar renda, empregos e exportações ao mesmo tempo em que promove a inclusão social, a diversidade cultural e o desenvolvimento humano”.

Em tempos de recessão , quando a crise na Petrobras diminui os postos de trabalho do Rio, o investimento em cultura pode constituir uma importante alternativa à economia carioca.

Para concorrer ao edital LAB Rio Criativo, a empresa precisa ter experiência em ao menos um dos seguintes segmentos: audiovisual, games, software e tecnologias de simulação, computação gráfica, efeitos especais e interatividade e realidade virtual. O ganhador será responsável por elaborar um projeto que inclua a criação de um estúdio de edição de vídeo, um estúdio para games e animação 2D e 3d, um estúdio de áudio e um estúdio de motion capture, entre outros.

Já para o edital de coworking podem se candidatar indivíduos e grupos de até cinco pessoas envolvidos com artes cênicas, música, artes visuais, literatura e mercado editorial, audiovisual, animação, games, mídias, moda arquitetura, design, gastronomia, cultura popular, artesanato, entretenimento e turismo cultural, entre outros. Os ganhadores do edital terão à sua disposição um espaço compartilhado mobiliado com mesas e cadeiras, ar-condicionado e internet de até 10mb. Os contratos terão durão de seis meses, renováveis por mais seis.

Debate discute como incluir quilombolas e start-ups

Os editais foram lançados ontem na sede do Rio Criativo, como parte de um evento que incluiu também um debate entre Luciane Gorgulho, chefe do departamento de Economia da Cultura do BNDES; Eliane Costa, professora da FGV e consultora de economia da cultura; e Manuel Thedim, cofundador e diretor-executivo do IETS (Instituto de Estudos do Trabalho e Sociedade).

Luciane, a primeira a falar, afirmou, citando um estudo da Firjan, que o setor da indústria criativa brasileira gera mais de R$ 126 bilhões ao ano, avançando 69,8% na última década. De acordo com a economista, a área emprega 892,5 mil profissionais, tendo aumentado seu número de postos de trabalho em 90% nos últimos 10 anos.

A economista citou diversos mecanismos legais existentes para o fomento à cultura no Brasil em seus diferentes estados: do Cartão BNDES e do microcrédito, recomendados para quem está começando uma empresa criativa, ao BNDES Procult e o BNDES Finem, para empresas emergentes ou maduras.

Eliane, por sua vez, falou da economia criativa como maneira de emancipação individual e social, enfatizando que o estado deve apoiar iniciativas locais de redes e coletivos, para além de projetos que visem imediatamente o lucro. “Há muita gente no Brasil promovendo fluxos, criando energia e pertencimento cultural, o que inclusive gera renda para muitos territórios”, disse.

A pesquisadora, que trabalhou por 10 anos como gerente de cultura da Petrobras, reforçou que a cultura tem um papel cidadão que não pode ser negligenciado. “Certa vez, uma senhora quilombola me perguntou: ‘agora eu vou ter que virar uma start-up?’. É isso o que queremos? Eu acho que não, que tenho que escutar e olhar para a diversidade cultural brasileira”.

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Thedim, por sua vez, procurou unir os dois aspectos da economia da cultura mencionados pelas outras palestrantes: tanto o econômico quanto o cidadão. O economista afirmou que “é fundamental discutir subjetividade nos territórios e olhar para cultura como capaz de abrir caminhos e mudar a perspectiva de tempo das pessoas. A cultura é uma forma de escapar da armadilha da pobreza e dos guetos. Devemos incentivar não só negócios puros em si, mas também iniciativas que possam transformar os locais em espaços mais generosos para seus habitantes”.

O economista, por outro lado, enfatizou também a importância da economia da cultura estar atenta ao mercado, para que assim consiga se estabelecer também como ferramenta de desenvolvimento. “Mas também não podemos pensar cultura apenas como relacionada à formação da subjetividade. Para ela ter ressonância mais efetiva, ela precisa também olhar de forma objetiva para o mercado. Precisa ter acesso a recursos, que são fundamentais para o desenvolvimento”, disse.

Além disso, Thedim ressaltou a predisposição histórica da cidade para o campo da economia criativa. “O Rio sempre teve essa vocação. Desde a música, a arquitetura e o design, a cidade tem sido celeiro de inventividade. Ainda hoje, temos uma produção muito rica, que agrega na produção de novos caminhos”, disse.

Algumas dessas novas iniciativas capazes de se somar ao legado da cidade também foram celebradas no evento de ontem: foram apresentados 16 novos empreendimentos escolhidos para auxílio no segundo ano da Incubadora Rio Criativo.

Cada uma das empresas receberá um aporte financeiro de R$ 60 mil para investir no seu desenvolvimento ao longo de 18 meses. Além disso, as empresas selecionadas contarão com infraestrutura e acompanhamento pela equipe de especialistas da Rio Criativo.

Os projetos vencedores incluem desde o Ateliê de Arquitetura de Favela, escritório que desenvolve projetos residenciais e comerciais para moradores de favelas, à Dumativa, produtora de videogames e artes visuais, passando pela Junta Local, que busca criar uma rede de produtores locais na metrópole.

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Os demais vencedores são o Aniiima, estúdio de criação de desenhos animados; a Clave de Fá, empresa especializada em pesquisa social, que já realizou um trabalho sobre a cadeia produtiva do funk; o Estúdio Giz, produtora audiovisual voltada para o público jovem; a Exímia Joias, marca de joias que combina técnicas elaboras e materiais inusitados para confeccionar joias de papel; a Fableware, que cria conteúdo narrativa em diferentes plataformas; a editora digital Ideias na Rua, especializada na produção de conteúdo para mídias digitais; a Maquinário Narrativo, que desenvolve roteiros para diferentes plataformas; a M+ E Design, que promove design de conteúdo e inovação para museus e centros culturais; a franquia de sapatos femininos Miarte; a Nuh, especializado em moda feminina; a Pet Roomie, comunidade digital de hospedagem de animais domésticos; a Taxidermia Design, empresa de design que produz objetos artísticos em três dimensões; e a Terceira Margem, que elabora projetos arquitetônicos e urbanistas utilizando uma equipe multidisciplinar que inclui arquitetos e psicólogos.