Notícias

Eduardo Paes faz balanço de seus oito anos como prefeito

Durante duas horas, o prefeito falou sobre Olimpíadas, a indicação de Pedro Paulo como sucessor e outros assuntos para plateia de mais de 80 pessoas no restaurante Osteria dell’Angolo, em Ipanema.

(Foto: Mauro Pimentel)

Para muitos, ele vai deixar saudade. Para outros, nem tanto. Indiscutivelmente, entretanto, Eduardo Paes, que deixa a Prefeitura do Rio no fim do ano, deixou sua marca como prefeito do Rio de Janeiro. Na última terça (19/1), ele participou da primeira edição do OsteRio em 2016. Durante duas horas, Paes falou sobre Olimpíadas, violência e outros assuntos para um salão lotado com mais de 80 pessoas no restaurante Osteria dell’Angolo, em Ipanema, sempre com o clima leve e informal, que já é tradição do evento.

JPEG - 52.1 KB

O prefeito chegou ao local de muleta e bota ortopédica e começou a conversa contando que fraturou o pé na festa de fim de ano da Prefeitura. Com o bom humor habitual, Paes garantiu que o acidente aconteceu antes que ele começasse a beber. Em sua apresentação inicial, o prefeito falou um pouco sobre a atual crise enfrentada pelo país. "Governar a cidade do Rio hoje é algo diferente do que foi nos meus primeiros cinco anos de mandato", disse. Segundo ele, o sucesso econômico e a paz política de 2009 foram substituídos por instabilidade financeira e um ambiente partidário rachado. "Como gestor, a gente é colocado muito mais à prova neste momento", afirmou o prefeito.

Para Paes, as ferramentas para encarar o panorama atual são o ajuste fiscal permanente e a aposta em parcerias público-privadas (PPPs). Segundo ele, essa receita é seguida com sucesso pela prefeitura já há algum tempo. "Esse choque de capitalismo na gestão nos permitiu manter esse volume de investimento tão grande", explicou, numa alusão a obras feitas durante sua gestão no Centro e nas zonas Norte e Oeste da cidade.

De acordo com Paes, R$ 65 bilhões foram investidos em educação e saúde em seus oito anos de governo — o que representaria 1% dos gastos do município com a Rio 2016 no período. O prefeito reiterou várias vezes que, entre 2009 e 2015, foram inauguradas mais de 300 escolas e 140 clínicas da família. Contudo, a sensação de insegurança nos últimos tempos, lembrou Paes, vem assustando os cariocas.

"Acho que o grande desafio da cidade é olhar para esse final de ciclo olímpico e descobrir que caminho a gente vai seguir", afirmou o prefeito.

Após a fala inicial de Paes, começou o bate-papo. Veja algumas perguntas feitas pela plateia e as respostas do alcaide.

JPEG - 50.3 KB

Pedro Paulo

A engenheira Ana Luiza Archer perguntou ao prefeito sobre as denúncias envolvendo seu secretário de Governo, Pedro Paulo Carvalho, que teria agredido a ex-mulher, Alexandra Marcondes. Paes escolheu Pedro Paulo como candidato para as eleições de outubro e, mesmo depois do caso vir à tona, manteve o apoio ao suposto agressor. "Agressão a mulher é crime. Eu mesma não vejo como votar no Pedro Paulo. Não consigo isso", argumentou Ana Luiza, que pediu ao prefeito que justificasse sua escolha para a sucessão.

O prefeito negou que o secretário tenha cometido as agressões em 2010. "Eu posso te garantir que, se o Pedro Paulo fosse um agressor de mulheres, eu jamais o apoiaria", garantiu. De acordo com a Folha, Alexandra informou à Polícia Civil que levou socos, chutes e perdeu um dente durante uma discussão com o ex-marido. Paes afirmou ainda que a capacidade de realização do secretário justificou sua indicação para a disputa. "Minha preocupação é que o Rio possa seguir em frente", informou Paes.

O tema também foi abordado por Alessandra Orofino, diretora executiva do Nossas Cidades. "Seu secretário de governo espancou a mulher e mentiu sobre isso", disse a economista, cofundadora do Meu Rio. Ela se referia a uma denúncia de agressão no Natal de 2008, que foi omitida por Pedro Paulo nas primeiras entrevistas sobre o assunto. Na resposta, Paes foi diplomático: "O bom da democracia é que a gente vota em quem a gente quer".

Segurança pública

Como o município pode apoiar o Estado em segurança? Na pergunta, o secretário executivo do Iser Pedro Strozenberg lembrou que, apesar do menor número de homicídios na cidade desde 1991, os autos de resistência aumentaram em 2015.

Paes defendeu que a presença do poder público em comunidades não tem sido suficiente para frear a violência. Citou como exemplo as favelas da Tijuca, onde obras de César Maia e outros prefeitos não evitaram a chegada das UPPs em 2010. Para Paes, trata-se de um problema policial. "Como é que a gente não consegue impor o monopólio da força nestes territórios?", indagou.

O prefeito lembrou que a polícia é muito violenta e que a desigualdade social favorece conflitos. Mas relacionou à manutenção da violência questões como a falta de vagas de ensino médio na rede estadual para alunos que vêm do município. Paes é contra o uso de armas pela Guarda Municipal e ironizou a possibilidade de municipalizar a polícia: "Aí, é melhor municipalizar o Pezão junto".

Rio 2016

Várias perguntas da plateia abordaram a Rio 2016. A jornalista Julia Michaels, do RioRealBlog, questionou a desocupação da Vila Autódromo para os jogos. Paes afirmou que o projeto do Parque Olímpico previa a demolição de 300 casas da comunidade para a construção de vias de acesso. De acordo com o prefeito, a proposta foi bem recebida e a maioria das pessoas optou por sair em troca de indenizações e novos apartamentos nas proximidades.

O empresário Daniel De Plá perguntou sobre o que havia sido feito em relação às favelas durante a preparação para a Rio 2016. Paes respondeu que não havia nenhum compromisso relacionado às comunidades na candidatura. Entretanto, destacou a construção de escolas e clínicas da família nas áreas mais pobres durante sua gestão.

"A maior parte das coisas que estão sendo feitas inspiradas nas Olimpíadas não estavam previstas na candidatura", disse Paes. O BRT Transoeste, a Linha 4 do metrô e o VLT são exemplos. De acordo com o prefeito, a única intervenção prevista não cumprida foi a despoluição da Baía de Guanabara, de responsabilidade estadual.

O gerente de Conhecimento e Competitividade do Sebrae César Kirschenblatz e o conselheiro do Instituto Unibanco Thomas Zinner fizeram perguntas relacionadas aos planos da cidade para depois dos jogos. Segundo Paes, a prefeitura trabalha hoje no pacote de obras Pra Frente Rio, que irá absorver operários a partir do segundo semestre. Além disso, eventos como o Congresso da União Internacional de Arquitetos, em 2020, devem manter a cidade movimentada nos próximos anos.

Mobilidade urbana

A mobilidade urbana foi assunto em dois momentos do bate-papo. No primeiro, o economista Manuel Thedim, diretor do Iets, abordou a proibição do Uber. O prefeito disse que a legalização é inevitável. "Mas transporte em área urbana tem que ser regulado pelo poder público", defendeu.

JPEG - 71.4 KB

Já a economista Alessandra Orofino questionou se Paes iria acatar uma sugestão do Tribunal de Contas do Município (TCM), que recomendava redução nas tarifas de ônibus. Paes respondeu que o TCM já mudou seu posicionamento em relação ao tema e destacou o Bilhete Único, a instalação de ar condicionado na frota e outras melhorias implementadas durante sua gestão.

Museus

A museóloga Claudia Porto sobre o planejamento do prefeito para museus de pequeno porte. "Me pareceu que essas estruturas já vinham eivadas de vícios e não valiam o investimento", respondeu Paes. Ele defendeu o modelo de PPPs, no qual o município é dono do espaço e a gestão é feita por organizações sociais (OSs). O Museu de Arte do Rio e o Museu do Amanhã foram idealizados já com esse formato. Ambos ficam na Praça Mauá e ajudaram na revitalização da área aumentando o fluxo de pessoas, segundo o prefeito.

Paes comentou também a situação do Museu Casa do Pontal, que alagou no último sábado (16/1). Segundo ele, R$ 10 milhões e um terreno para uma nova sede já foram liberados. Mas problemas com o projeto têm impedido que a situação se resolva. "É um equipamento fantástico numa área complexa, que piorou com a expansão urbana", disse Paes. Em entrevista à Folha, a diretora do museu informou que a construção da Vila de Mídia da Rio 2016 nas proximidades do local deixou o terreno exposto a alagamentos.

Futuro político

Segundo o presidente do Instituto de Arquitetos do Brasil Sérgio Magalhães, o Rio se tornou a cidade mais importante do país durante a gestão Paes. Ele destacou o bom planejamento no período. "O senhor não quis municipalizar o Pezão. Suponho que também não queira municipalizar a Dilma. Se for federalizado o Eduardo Paes, como as cidades brasileiras serão ser planejadas?", perguntou Sérgio. Ele aludia à possibilidade de Paes ser candidato à presidente em 2018. "Sem chances", respondeu o prefeito.

Para ver mais fotos do OsteRio com Eduardo Paes, clique aqui